quinta-feira, 26 de março de 2009

O Bebé: Sonho ou Realidade?


O Bebé: Sonho ou Realidade?
Todos os casais que desejam ter filhos, incluindo os inférteis, preparam-se para a chegada de uma criança muito tempo antes da concepção. A Psicanálise explica esta “preparação” como um ponto central para o estabelecimento posterior (depois do nascimento) de uma vinculação com o bebé. Todos nós criamos uma imagem, consciente ou não, do bebé que um dia desejamos ter. Esta imagem vai moldar-se depois ao bebé quando o conhecemos e vai ser um dos mais poderosos factores que dinamiza depois a qualidade da relação mãe-bebé (Burns, 1987).
Quando já não existem muitas esperanças de gerar um filho, o casal infértil depara-se com um sentimento de perda onde permanece uma enorme incerteza: apesar de saberem que não podem ter filhos no presente não estão absolutamente convencidos de que nunca os terão. Existe sempre uma esperança que a situação seja reversível. Esta esperança tem momentos de força, confiança e determinação, mas também tem momentos em que se torna ténue ou mesmo inexistente. Todos estes altos e baixos são de uma violência gigantesca, que ameaçam a sanidade mental da pessoa que os vive, assim como toda a sua vida quotidiana e todos os que a rodeiam.
Mesmo quando o tratamento é bem sucedido, a maior parte das mulheres continua a considerar-se como infértil, adoptando comportamentos que as impedem de dispor de tempo para pensar no bebé: evitam imaginar como será o bebé, comprar-lhe roupas, objectos para o quarto e brinquedos (Seibel, 1997).
Sabemos que a negação da gravidez, que nestes casos ocorre como uma defesa contra o novo sofrimento em caso de perda, não é compatível com a vivência saudável da gravidez e vai colocar posteriormente problemas na relação mãe-bebé. Por esta razão, a existência de uma Consulta de Psicologia, integrada na equipa multidisciplinar de tratamento da infertilidade, faz todo o sentido. A Consulta de Psicologia poderá funcionar como um meio de prevenção de problemas futuros, oferecendo à grávida (ou futura grávida) um técnico especializado com tempo disponível para a ouvir, num espaço próprio para a realização de um aconselhamento psicológico individual, destinado à aprendizagem de técnicas de relaxamento e estratégias de coping face ao stress, e também à partilha de medos, fantasias e vitórias.
A infertilidade é uma doença silenciosa, que implica um sofrimento que muitas vezes não é compreendido como tal. Este sofrimento afecta a pessoa infértil e estende-se a toda a sua família. É importante que se criem condições que permitam um apoio psicológico não só da mulher, mas também do casal. Para os casais inférteis, a fantasia do bebé representa a perda, o sofrimento da luta e a longa espera, pois sabem que o bebé permanece um sonho e apenas um sonho. Com ajuda, esta fantasia pode passar a representar também a esperança e pode tornar-se a base de onde se tira a força para voltar a lutar e acreditar que os sonhos podem ser realizados.

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